terça-feira, 17 de agosto de 2010

Por Humanista ...


Ela ainda estava com a presença chata daquela dor de cabeça. Noite passada, dormira pensando em tudo que queria e que não podia, ou melhor, em quem queria e não podia. Aqueles pensamentos fervilhavam em sua mente de forma tão intensa e tão viva que somente ela via as queimaduras provocadas por eles em seu corpo. Corpo que cansado estava de apenas imaginar o abraço, o sorriso e o perfume que um dia sentiu. O teve em seus braços por míseros segundos, mas o suficiente para que seus sentidos captassem as cores, o som, o cheiro. Tudo aquilo ficou impressa em sua memória RAM.

No impulso das palavras, ele disse que eles teriam tempo. Mas ela pressentia que não haveria tempo. Tal qual o paciente desenganado pelo médico, seu sexto sentido a avisara de que o amor, aquele amor no qual se envolvia, se entregava e se movia, teria fim. Dias contados. Indagava-se por que teria de ser assim, posto que pela primeira vez seu coração sentira tamanho fervor dentro de si. Só de pensar nele, era acometida por tamanha sede. Sede de sua presença.

Ela questionava se o que sentia era paixão. Nunca gostou dessa palavra. Sempre fugira dela, como quando fugia da mãe para não apanhar. Sabia que quem brincava com o fogo, geralmente saía queimado. Era o que ela ouvira de todos quantos adentraram esse labirinto sentimental. Pensava: “Pessoas neste estado deixam de pensar; não existem mais. Apenas sentem”. Gostava da máxima filosófica de Descartes, por isso empreendera toda a sua vida na árdua tarefa de pensar e existir, pensar e andar, pensar e parar, pensar e acordar e dormir. Pensar e sentir.

Quando o conheceu, pensou, gostou do que pensou, daí desatou a pensar. Sentiu. Ainda continuou pensando, mas os pensamentos dele a dominaram de tal forma, que indiretamente através de um olhar, ele disse: pensas em mim? Ela consentiu com a cabeça. Queres me sentir? Ela abaixou o olhar. Suavemente ele tocou em sua face e segredou-lhe: Sinta-me. Então, ele colocou as mãos dela em seu coração. E ela sentiu a força da vida a pulsar em seu peito. Por um instante sentiu-se plena, como se por forças mágicas fosse ela própria o coração dele. Sim, sentia-se responsável por aquelas batidas que, compassadamente, davam a ele a vida da qual ela tanto queria fazer parte.

Mas ela sabe que há tantos outros corações a se desbravar. E que não pode aprisionar-se a este coração que não quis lhe pertencer. O que ela fez? Correu, correu pra longe. Suas mãos molhadas por todas as lágrimas que derramara ao sonhar acordada. Há, contudo, uma beleza que por hora oculta, revelar-se-á em dia oportuno. Qual? A de que, por mais que tenha chorado, permitiu que estas mesmas lagrimas caíssem ao chão. Chão de terra dura, batida, mas que suas lagrimas fertilizaram, de modo que em breve, no lugar das lagrimas nascerão flores. De preferência, girassóis.


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